Aprender com Maria como viver no Tempo do Advento

(Homilia – Encerramento da Festa de Nossa Senhora do Patrocínio em São Fernando/RN – 28/11/21)

           Meus irmãos e minhas irmãs, estamos encerrando a Festa de Nossa Senhora do Patrocínio, e como dissemos no início da missa, queremos aprender com Maria como viver no Tempo do Advento.

              Venerar Maria com esse título de Nossa Senhora do Patrocínio, é reconhecer o papel de Maria na nossa vida, como aquela que nos ensina, nos aponta o caminho e constantemente nos diz: “Fazei tudo o que Ele vos disser! (cf. Jo 2, 5). Por isso, precisamos entrar nesse tempo do Advento com a mesma postura de Maria. Qual foi a postura de Maria? Ela foi capaz de ouvir a Palavra de Deus e colocá-la em prática. Ela foi capaz de deixar que Deus fizesse nela a sua obra. Por isso, ela concebeu pela ação do Espírito Santo.

                 O Tempo do Advento é um tempo que quer nos preparar para a tríplice espera: A primeira vinda de Jesus já aconteceu, e nós vamos celebrá-la no Natal, fazer memória da mesma; Vivemos na expectativa da segunda vinda de Jesus, a Parusia, quando tudo e todos forem uma coisa só e o Senhor vier na plenitude; E entre a primeira e a segunda vinda, temos aquilo que chamamos de vinda intermediária: O Senhor vem a cada instante. Por isso, precisamos aprender com Maria como viver a expectativa desse tempo.

                 Advento quer dizer vinda. Quando alguém chega em nossa casa de surpresa, é até bom, gera em nós alegria. Mas, bom mesmo é quando  podemos preparar a chegada de alguém. Aqui em São Fernando quantas famílias se prepararam para acolher familiares que vieram para os festejos, e na medida que vamos preparando a chegada do outro, já vamos vivendo a expectativa de sua chegada, a tal ponto que quando o outro chega, o nosso coração já está em festa. Assim, também,  deve ser a nossa postura diante de Deus. Desse modo também foi Maria aguardando a chegada do Salvador.

                 E a primeira coisa que nós podemos ou devemos aprender de Maria, é aquele elogio que Jesus a fez. Qual foi o maior elogio que Jesus fez a Maria? Quando pela empolgação com as atitudes de Jesus, alguém diz: “Feliz o ventre que te gerou e os seios que te amamentaram!” E Jesus diz:  Não! Feliz é quem escuta a Palavra e a coloca em prática! Feliz é quem faz a vontade do Pai!

                  Portanto, quando Jesus dá essa resposta, Ele não está tirando o mérito de Maria, mas está justamente mostrando qual foi o mérito dela. O mérito de Maria não foi porque seu ventre gerou Jesus ou seus seios o amamentaram, mas, foi porque, antes disso, ela foi capaz de ouvir a Palavra de Deus e colocá-la em prática. Ela foi capaz de entender a vontade do Pai e dizer: “Eis aqui a serva do Senhor!” A sua maternidade é consequência disso. A maternidade de Maria é consequência desta postura. Por isso, queremos aprender com Maria a ouvir a Palavra. E o que a Palavra de Deus nos diz hoje? A primeira leitura fala da promessa de Deus: Deus prometeu, Deus é fiel! É preciso que nós acreditemos nas promessas de Deus, Ele as realiza. O problema é que nós, muitas vezes, não temos tempo ou não sabemos esperar pelas demoras de Deus. Eclesiástico 2, diz: “Filho, se queres servir ao Senhor, prepara-te para a provação e espera as demoras de Deus”.

               Nosso povo tem um ditado que diz: “Deus tarda, mas não falha!” Dom Hélder Câmara dizia: “Deus nunca tarda, somos nós que somos avexados”.

           Deus sempre faz as coisas no Seu tempo. Vejam, entre as primeiras profecias que anunciaram a chegada do Messias, aproximadamente na época do Rei Davi até a chegada de Jesus, foram mil anos. Mil anos para Deus é como se fosse ontem. E aqueles que esperam em Deus, são capazes de ver a realização em Deus, do jeito de Deus, no tempo de Deus. Essa é a primeira lição.

               Uma segunda lição vem da segunda leitura, que fala: “Que assim ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeitos aos olhos de Deus nosso Pai, no dia da vinda de Nosso Senhor” (1Ts 3, 13). O Senhor já veio! Ele está no meio de nós!

                Como eu dizia no início, há uma tríplice vinda: Ele veio, Ele virá e Ele já está no meio de nós. É preciso percebermos a presença do Senhor. O grande problema é que nós gostamos dos grandes ‘shows’, dos grandes espetáculos. E Deus, muitas vezes, se manifesta nas pequenas coisas, nos pequenos gestos. Quem quis ver Deus precisou encontrar uma criança no estábulo, e naquela criança no estábulo estava a maior manifestação de Deus. Quem gostava de coisa grande estava no Palácio de Herodes, estava no Templo de Jerusalém, vazio da presença de Deus porque tinha se tornado um lugar de comércio, uma casa de exploração.

                Uma terceira mensagem que a Palavra de Deus no diz hoje é: Ser capaz de levantar a cabeça. Que significa ser capaz de levantar a cabeça? Ser capaz de enfrentar as dificuldades da vida, sem fugir delas, mas com os olhos fixos em Jesus. Se nós enfrentamos as dificuldades pensando ser impossível, nós já estamos derrotados. O cristão, ele não nega a dificuldade. Por exemplo: Contradiz o cristianismo negarmos esse momento que estamos vivendo. Estamos vivendo a pandemia desde março do ano passado, a pandemia ainda não passou! Graças à Deus, no Brasil, apesar de tantos obstáculos, a vacinação caminhou bastante. A ação da graça de Deus através de pessoas, de organismos, fez com que a vacina fosse descoberta e foi-se construindo em nosso país a cultura da vacinação, ela foi tornando-se acessível, a ponto que a variante Delta não causou tantos estragos no Brasil, como causou em outros países. Hoje já se falam de uma quarta onda, surgindo na Europa, parece que à partir da África, não se sabe ainda com clareza, e que com certeza vai chegar até o nosso continente, mas que, pelo acesso que temos tido a vacina, o impacto, acreditamos e esperamos que seja menor. É lamentável perceber pessoas que não acreditam na ciência, e que por isso não quiseram vacinar-se. Os dados mostram que os que morrem hoje no Brasil de COVID, o maior número dos casos foram pessoas que não quiseram vacinar-se e por isso ficaram mais vulneráveis. Então, negar essa realidade, é não ver os sinais. Os sinais de Deus acontecem. A Ressurreição se dá na hora da cruz. No mesmo momento que o Senhor anuncia os sinais, as desgraças que podem acontecer, ao mesmo tempo, Ele anuncia as graças. Um tempo como esse de pandemia, que por um lado se ver tantos males, como por exemplo, desvio do dinheiro público em proveito próprio e propagação de ideias falsas para atrapalhar o progresso de conscientização, por outro lado, vemos tantos outros doando-se para o bem do próximo.

         Terminando esse tempo de pandemia, precisamos fazer um monumento para os profissionais de saúde, desde os médicos até as pessoas dos serviços gerais, que deram a sua vida para salvar a vida de muita gente. Na primeira hora, não poucas pessoas faleceram. Quando olhamos as  primeiras pessoas que faleceram, muitas eram profissionais  de saúde que estavam na primeira linha, ali, salvando vidas, e isso é graça de Deus! Humanamente a gente não é capaz de dar a vida por alguém, mas quando nos abrimos ao Espírito de Deus, somos capazes de fazer como Jesus fez. E os profissionais de saúde fizeram isso!

            Então, é preciso levantar a cabeça, enfrentar o mal, dar nome aos bois, mas, ao mesmo tempo, dizer: Todo gigante tem pé de barro. Quem acompanhou as leituras dessa semana, mostrava os reinos. Quantos reinos passaram e se destruíram. Às vezes, o time que tem maior estrutura técnica e gasta mais dinheiro, nem sempre é aquele que leva o campeonato, que leva o título. Nessa hora, nós reconhecemos que toda fortaleza humana carrega uma fragilidade e que a força de Deus se manifesta justamente na fragilidade. Para isso, devemos ficar atentos.

               A primeira palavra de ordem do primeiro domingo do Advento é: “Vigiai”! Mas vigiai não no sentido de alguém que fica tomando conta da vida do outro nas redes sociais ou olhando pelas frestas da janela, não é isso, mas o vigiai é no sentido do vigia, de sentinela, que olha ao mesmo tempo o mal que se aproxima. e é capaz de dizer: Isso é o mal! E apesar disso,  é também capaz de anunciar que está chegando uma boa notícia. E a boa notícia, qual é? É que o Filho de Deus se fez nosso irmão. E Ele assumiu a carne humana na carne de Maria. Por isso, o lugar bonito que Maria ocupa na nossa espiritualidade católica. Ela não é uma deusa, ela é ser humano como nós, mas entre as criaturas, entre os seres humanos, é Aquela que está mais perto de Deus. Por isso, nós veneramos Maria justamente como aquela que foi capaz de deixar que a obra de Deus atingisse a perfeição, aquela que foi capaz de deixar Deus fazer sua morada, aquela que acolheu a visita de Deus, porque Deus visita o seu povo. Tempo do Advento é tempo disso. Eu acho muito bonita essa imagem, do Evangelho e da teologia de Lucas, que conta a história da Encarnação , a história de Jesus falando que, Deus visitou o seu povo.

                Que nós consigamos acolher a visita de Deus!

             Papa Francisco, ontem ou hoje falando lá em Roma, ele disse que recebeu o presidente da Albânia, e ele ficou tocado com uma frase do presidente da Albânia; ele disse que na primeira constituição da Albânia, dizia, que você deve acolher a visita como quem acolhe o próprio Deus. E isto na Constituição de um País! Imagine o que deveria dizer um cristão a partir da nossa constituição que é o Evangelho!

                 Maria, acolheu a visita de Deus e fez da sua vida uma morada para Deus. Ela pode nos ensinar a viver esse tempo do Advento, para que quando chegue o tempo do Natal do Senhor, nós possamos dizer: não havia lugar para Ele naquela estalagem, mas no casebre do meu coração, há sempre um lugar para o Senhor! Pode nascer, Senhor, na minha vida, pode nascer, Senhor, no nosso mundo.

          Por isso, peçamos a Nossa Senhora do Patrocínio, a Mãe de Deus, a nossa Mãe, que nos ensine a viver esse tempo do Avento, esse tempo da alegre expectativa, e possamos dizer como Maria, possamos dizer com toda a Igreja a grande invocação do Advento: Maranatha! Vem Senhor Jesus! Que assim seja!

Dom Antonio Carlos Cruz Santos, msc

Bispo Diocesano de Caicó/RN

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